quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Casa Propria

O meu primeiro apartamento

Pegamos carona nas dúvidas de Nina Logullo, de 23 anos, que começou o ano louca para sair da casa dos pais e ir morar sozinha. Ela investigou se é melhor comprar ou alugar, qual o kit mínimo para ter conforto, quanto poupar para emergências...
Karina Hollo

Tenho tudo o que só casa de pai oferece: desde verba para colocar gasolina no carro até roupa lavada, passada e guardada na gaveta sem nunca ter chegado perto do tanque.

A única conta preocupante é a da balada ou a do cartão de crédito, com o parcelamento da maxibolsa incrível e dos minivestidos que comprei no verão. Mesmo assim, aos 23 anos, acordei na cama de solteira e me senti grande demais para aquele ninho. Mas antes de esvaziar o armário, fazer minha trouxa e escrever um bilhete de despedida, resolvi investigar o que enfrentaria se decidisse mesmo ir morar sozinha.

De mala e cuia

Nos meus sonhos, além de, lógico, ter que pagar aluguel, água, luz e telefone, dar esse passo envolveria também poder comprar um novo par de sapatos todo mês, no melhor estilo Carrie, de Sex and the City. Será que meu salário de recém-formada em jornalismo comporta tantas despesas? Minhas amigas que já alçaram vôo contaram que a maior dificuldade para quem sai debaixo da asa dos pais é sacrificar pequenos luxos em nome das despesas básicas.

Foi o caso de Maria Lúcia Maretto, advogada de 26 anos. "Quando recebi uma promoção, aluguei um apartamento e contratei todos os serviços que a tinha acesso em casa, de faxineira a supermercado delivery. Em 30 dias, precisei pedir dinheiro emprestado à minha mãe." Para consultor e personal trainer financeiro Daniel Balaban, Maria Lúcia evitaria o problema se seguisse a regra básica do 70-30. "Suas dívidas fixas (aluguel, condomínio, farmácia, contas domésticas...) devem comprometer 70% do seu salário.

Como descobrir quanto elas somam? Nada melhor do que conversar com quem já vive essa realidade na pele. "Só assim você sabe direitinho se tem como bancá-las", diz Balaban. Daí, 10% dos seus ganhos podem ser destinados a gastos extraordinários (como baladas, restaurantes, viagens e roupas). Outros 10% precisam ser guardados para o futuro em um fundo, ações ou poupança. O resto é para imprevistos, como quando você bate o carro ou precisa comprar um novo chuveiro”, explicou o especialista. Outro conselho de ouro é guardar pelo menos 80% do holerite por no mínimo três meses antes de sair de casa. "Assim, faz um pé de meia para emergências."

Casa própria ou aluguel?

Essa foi outra grande dúvida que surgiu. Balaban disse o seguinte: se eu tivesse dinheiro guardado para mais da metade do valor do apartamento à vista, ou paciência para poupar enquanto moro com meus pais, até poderia optar pela compra. "É interessante financiar o mínimo possível, para que a parcela seja menor e o pagamento, mais curto", fala ele.

Como meus 43 pares de sapatos ainda não são considerados investimento (o que é uma injustiça), no meu caso, locar se torna mais vantajoso. "No Brasil, o aluguel é baixo em relação ao preço do imóvel. Sem falar que, se você tem 20 e poucos anos, sua vida tende a mudar bastante na próxima década", alerta o expert. "Pode ser que arranje um emprego do outro lado da cidade, resolva se casar..." Aí, é bem mais prático estar amarrada a um contrato de 50 meses do que a um financiamento de vários anos.

O novo endereço

Sair de casa não significa que quero ver meus pais só nos feriados. Pensei em permanecer pelo menos no mesmo bairro deles, para suavizar a transição. Porém, os especialistas me aconselharam morar onde a minha vida acontece, ou seja, perto do trabalho. Assim, não perderia tempo no trânsito.

Sei que alugar um apartamento sem garagem fica mais em conta. Mas sou vaidosa assumida, chego em casa tarde... Então, o barato pode sair caro. Já fui assaltada umas seis vezes e sei que correr de mal-encarados em cima do salto alto não é tão glamuroso como nos filmes.

Pequenas "grandes" despesas

Faz parte da fantasia de conquistar meu próprio apê poder pintar a parede da sala de berinjela se me der na telha, decorar cada cantinho do meu jeito. Confesso: há meses coleciono recortes de revistas com bibelôs charmosos, moringas exclusivas, lençóis que ficariam incríveis na cama que escolher para viver aventuras das mil e uma noites... A questão é: quanto vão custar meus caprichos? A imaginação não tem limites, já minha conta bancária...

Perguntei a Moara di Pietro, de 27 anos, como se preparou para sair da casa dos pais e ela garantiu que reservou apenas cerca de 500 reais. "Estava disposta a mudar com o colchão e uma mesa. Meu pai deixou levar a cama. Comprei o restante aos poucos em lojas de artigos usados. Em um mês, veio o armário; no outro, o fogão de duas bocas; depois parcelei um frigobar." Admiro o desprendimento dela, mas acho que não tenho vocação para viver acampada.

Prefiro seguir um dos primeiros conselhos dados pelo consultor e economizar para poder comprar o mínimo de uma única vez: sofá, tevê, tapete e cortinas para a sala; fogão e geladeira para a cozinha; cama, colchão e armário para o quarto. E também copos, pratos, talheres, roupa de cama e banho. Uma amiga de infância, Patrícia Penteado, de 26 anos, me ajudou a montar a lista. Ela contou que só se deu conta de precisar de escorredor de macarrão, por exemplo, depois de a massa já estar cozida na panela, imagine! "Também só percebi que não tinha ferro de passar em casa a meia hora de um encontro com um paquera promissor. A maior roubada. O jeito foi trocar o modelito e providenciar o utensílio na primeira oportunidade."

Suave preparação

Cálculos financeiros feitos, me pergunto: será que vou me virar bem com as tarefas domésticas e a solidão? Os psicólogos aconselham fazer um test-drive antes de bater asas de fato. Enquanto engordo a poupança, vou começar a agir como se estivesse solta no mundo: lavar minha roupa, limpar meu quarto, preparar o jantar vez ou outra. Eu sei, vai ser duro estragar o esmalte na pia, mas devem ter inventado as luvas para salvar as unhas de mulheres como nós, certo? Além do mais, dizem que esse exercício me deixará autoconfiante.

E se fizer a mudança e depois me arrepender? "Não sinta vergonha de voltar ao ninho", diz a psicóloga Suzy Camacho. "Para isso, é importante manter a porta da casa dos pais aberta. Se não der certo, você tem um porto seguro para se reorganizar", orienta. E, por mais que dê medo, a gente não perde nada com a experiência. "Morar sozinha ensina a ser auto-suficiente, a cuidar da própria vida, a conviver consigo mesma. Você vai acreditar no seu poder e perceber que sobrevive a qualquer apuro." E isso não tem preço.

Só, e bem acompanhada

Ok, você fez as contas e sabe que, apertando um pouquinho ali e remanejando os gastos supérfluos, conseguirá terminar o mês no azul, quiçá até pagar uma hidratação caprichada no salão. O problema é segurar a onda na hora de entrar em casa e não encontrar nin-guém. Se antes você chegava do trabalho e torcia para cruzar com seus pais e irmãos, vai estranhar não ter com quem conversar. É do tipo que gosta de agito? Vale pensar em convidar uma amiga para dividir o teto - e as contas.

"O segredo é não lamentar", aconselha a psicóloga Suzy Camacho. "Está se sentindo sozinha? Ligue para alguém, saia de casa, faça sua vida girar." Tem gente que tira o dilema de letra. "Moro só há dois anos e nunca senti solidão", conta a professora de inglês Paula Fonte, de 28 anos. As três melhores amigas dela têm a chave da porta da frente e não é raro encontrá-las vendo tevê ou dormindo no sofá da sala. "Só peço para avisarem antes de ir, afinal, o apartamento é meu."

Como dar a notícia

Se sair de casa é difícil para você, imagine o sofrimento dos seus pais para aceitar que a filhinha do coração cresceu. "Quando disse que pensava em morar sozinha, minha mãe me acusou de ingrata", desabafa Evelyne Prado, de 23 anos. Antes de revidar o comentário, a secretária respirou fundo. "Entendo que, para ela, não faz o menor sentido trocar o conforto e a companhia pela minha liberdade." Melhor do que comprar a briga com seus pais é procurar compreender o sentimento deles. "O assunto é delicado e você vai precisar de argumentos para provar que está madura", explica Suzy. Para ela, uma saída conturbada pode ser entendida como retaliação. "Eles precisam entender que você os ama e que é agradecida, porém quer crescer e conquistar os próprios sonhos."

Moara sentiu na pele a aflição. "Só contei para o meu pai que ia sair de casa depois de economizar o dinheiro e alugar o apartamento. Ainda assim, ensaiei por duas semanas! Disse que estava feliz por ter conquistado meu espaço, que gostava de morar com ele, porém já tinha quase 30 anos. Ele demorou a aceitar, mas acabou engolindo." Para a psicóloga, é importante acompanhar a adaptação deles depois da saída. "A dupla pode se sentir renegada. É bom telefonar durante a semana, aparecer para um café... Dessa forma, você prova que, mesmo morando longe, não está distante.”

Baú da casa própria

Está pensando em comprar em vez de alugar? Segundo os experts, as prestações mensais devem comprometer, no máximo, 25% do seu salário. Se precisar financiar, alguns bancos, como a Caixa Econômica, oferecem vantagens especiais, como 30 anos para pagar. Vale a pena checar o plano do FGTS.

Funciona assim: você resgata parte ou todo o valor do seu fundo de garantia e compra o imóvel. Se não tiver grana suficiente, vai até a um banco levando uma carta de crédito com o valor resgatado e financia o que falta com juros especiais, mais baixos. Em janeiro de 2008, as regras ficaram assim:

Quem ganha até 1 875 reais
Juros 6% ao ano
Quem ganha de 1 875 a 4 900 reais
Juros de 5,5 a 7,66% ao ano (varia de acordo com a faixa de renda). Limite: imóveis de até 130 mil reais
Quem ganha mais 4 900 reais
Juros de 8,66% ao ano desde que tenha no mínimo 3 anos de contribuição ao FGTS. Limite: imóveis até R$ 350 mil

Fonte: Revista Nova

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